sábado, 4 de abril de 2009

I ato - Segunda Pessoa

Eu sempre fui blindado, meu espírito inquieto me leva a constantes mudanças, mas não me abalo facilmente, vaguei pelos quatro cantos do mundo, eu o conheço, sei de suas leis, eu o domino, sou parte dele, mas não sou dele. Buscava soluções praticas para resolução de minhas utopias, me remoia por não encontrá-las, estive acompanhado muitas vezes, mas quando a noite acabava eu me encontrava vazio.
Minha parte restante não estava por onde andei, minha vida não tinha cor, nem calor, queria me preencher de algo que não sabia o que era e nem onde encontrar, vagar por caminhos tortuosos me trouxe experiência, mas nenhuma resposta concisa. A força faltava e a esperança fraquejava, estava desprotegido e andando por novos caminhos no limiar extremo, onde ninguém jamais esteve.
A fronteira psicológica que barrava até então todos os seres estava diante de mim, mas já estava tão fraco, tão desgastado, necessitando de repouso que não me importei por permanecer por alguns instantes ali, onde ninguém jamais esteve, ou jamais tinha se mostrado até então, repentinamente fui surpreendido por uma imagem no espelho, aquele reflexo não me conhecia e eu não conhecia ele. Fiquei estático, até então não havia estado em tal situação, mas logo passei a compreender o que o reflexo me dizia, ele era uma consciência para mim. Suas metáforas me faziam ver tudo por outro ângulo.
Meu semblante já melhorará, eu podia sorrir e o reflexo sorria, conseguia ser eu mesmo, não usava minha carapaça, que antes feria os demais, mas eu precisava ir, não podia ficar, no entanto sabia onde a consciência estaria me esperando, o reflexo no limite do mundo. Eu caminhava e olhava para trás, até que meus olhos não o avistassem mais, queria voltar naquele instante e prometi que voltaria quando pudesse.
Vaguei novamente, dessa vez eu era mais forte e muito mais confiante, já não levava a carapaça, tudo que via não me agregava tanto quanto o reflexo, aquela consciência paralela presa em um espelho no limite do meu mundo, eu queria tira-la de lá, eu queria que ela pudesse ter movimentos próprios, ela não podia permanecer ali pra sempre, do outro lado onde eu jamais poderia estar. Mal podia me conter, voltei e lá estava a consciência que não abandonava meus pensamentos. Eu tentava trazê-la para meu lado, juntos nos esforçamos, mas era praticamente impossível, aquela barreira que por séculos separava dimensões era muito resistente e eu me feri.
Eu estava no mundo, era parte dele e a consciência era refém do limiar, pensei muito como fazer para que a barreira se rompesse sem a necessidade de conflitos entre mundos, nenhuma solução pacifica se mostrava, e para evitar problemas resolvi sair. Eu tinha que estar em outros lugares não visitados, minhas perguntas não tinham respostas por inteiro e eu não podia permanecer ali, tão perto e sem tocar a imagem presa no nada. Retirei-me, isso me corroia e eu fui dessa vez sem olhar para trás, só que as dúvidas aumentaram, as certezas viraram incertezas, sentia que deveria estar junto da consciência e não longe dela, não importa onde ela estivesse eu precisa da sua presença. Voltei e tudo foi mais claro dessa vez, as respostas vinham, o quebra-cabeça se montava rapidamente com nosso contato diário.
Estávamos chegando as conclusões obvias, precisei me distanciar por conta de alguns pequenos detalhes e quando voltei não pude acreditar, ao invés de uma consciência solitária, mas que sempre me aguardava imitando meu sorriso eu encontrei uma imagem amarrada, distorcida em espelho, seu semblante de dor me incomodava, ela parecia estar sofrendo muito. De perto pude perceber que quem a amarrava e vigiava eram os próprios criadores dela, as autoridades que dividiam os mundos dessa vez me torturavam, não deixando que eu me aproximasse um pouco mais da minha imagem. Cai de joelhos estava inerte e impotente diante de tal situação, fui ameaçado, as palavras que me apontavam feriram mais que armas mortais, as pressas deixei o limiar e o espelho, meu reflexo, minha consciência triste ferida e solitária, cercada de carrascos desumanos, eu fugi para longe. Hoje estou me recompondo, criando estratégias, arquitetando planos gigantescos que incluem todo tipo de argumentos. Hoje visto minha antiga carapaça que não serve mais para ferir ou outros, apenas para me proteger.
Graças a minha consciência palavras que não existiam em meu dicionário ganharam significado intenso e hoje vivo um pouco mais completo, cheio de seus ensinamentos, porém sem a sua presença aqui comigo, nem mesmo na calada da noite posso visitá-la, não sei como está, mas sei como quero que ela fique.
Compreendo perfeitamente a sinceridade em todas as palavras, peço perdão pela força que me faltou no momento eu que deveria ter feito algo a mais que apenas fugir para evitar o conflito.
No entanto não descansarei enquanto não lhe for oferecido o justo e necessário para a sua felicidade.

Um comentário:

Unknown disse...

Complexo...confuso...intenso e...profundo....MAs...compreensível à "consciência".........Lu