sábado, 20 de junho de 2009

Luz e Trevas

Ele vinha do lado sombrio do mundo, ela já havia passado pelo elmo e voltado em paz para o seu lado claro, eles se encontraram na linha imaginária que dividia um povo e outro, num curto espaço de tempo transitaram livremente entre os dois lados fazendo da extensão do mundo o seu quintal, negavam-se a cumprir as regras e comprimiam ensinamentos primários dos seus povos, fazendo com que a decisão de ambos fosse levada a diante pelo caminho da eternidade, mas as crenças passaram a se mostrar mais fortes e os conhecimentos adquiridos em conjunto criavam dúvidas ao lado sombrio, pois as experiências anteriores lhe pareciam o suficiente para não crer nas novas possibilidades, o lado límpido mostrava uma força fora do comum e através da indução e construção de imagens revertia-o em partes, fazendo com que os pensamentos de ambos voltassem a convergir para o caminho mais provável. Com o tempo ambos os lados passaram a medir forças e quase sempre a luz ganhava, as sombras passaram a se fazer fracas e a caminhar pelos caminhos que a luz desejava, mas a convivência passou a ser difícil. Ela se afastava e ele sofria, ela se sentia presa e ele queria prendê-la, ela buscava outros caminhos e ele insistia nos mesmos, eles se separaram.
Ela estava contente com seus novos desafios e a possibilidade de resolver tudo sozinha, ele se sentia perdido e achava que tudo que havia nele que a incomodava, de fato o incomodava também, passou a lapidar as qualidades jogando fora os costumes toscos de seu povo, percorreram caminhos separados, ele sempre pensando nela e ela nela mesmo. Até que ele deixou de lado a saudade e resolveu cruzar novamente os limites, mostrando-se a ela numa oferenda do povo da luz, naquele momento ele se sentia atraído para o seu lado, uma força o empurrava a favor dela, quando ela o percebeu ele já a observava a muito.
Mas, foi então que ele soube que ela caminhava por novas veredas verdes e um ser do bem e da luz já havia cativado-a, ele a tinha tomado desarmada e ela assustada cedeu à claridade intensa e ao calor assustador.
Nesse momento a luz cegou o ser das trevas, feria-lhe os olhos e o ritual passou a ser doloroso, ele percebia que parte dele já não estava ali, ela havia tomado dele sua coragem, o chão e o céu o espremiam e as luzes vinham de todos os lados. Imediatamente ele regressou as sombras, mas seus olhos muito ofuscados não discerniam os caminhos, a treva também se tornara insuportável, ele já não sabia por onde andar, pois não era possível enxergar mais nada nitidamente.
Agora ele vaga por todos os lados, não sabe se conhece ou desconhece os caminhos, se está entre amigos ou inimigos, de vez em quando tem a impressão de ver um vulto no horizonte e chega a cogitar se é a sua luz que um dia permitiu que se fosse, fica a observar até que ela se vá, no entanto não lhe é possível ter a certeza jamais. E desde então ele sobrevive de lembranças, com passos lentos vai por onde lhe pareça fácil, se alimenta de saudades e sonhos. Não há mais sentido e nem direção correta, não há orgulho tampouco rituais de outrora, somente nada. Somente o passado maltratando um ser da treva todo o tempo, isso só é possível por ele ter acreditado um dia que poderia se assemelhar aos da luz sem perder a sua essência, hoje ele já não pertence a nenhum dos lados, já não pertence nem a ele mesmo. 18/06/09

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